A ARTE DE LER: UM GUIA COMPLETO PARA ELEVAR SEU ENTENDIMENTO COM MORTIMER ADLER

Em um mundo saturado de informações, a habilidade de ler com profundidade é uma arte rara e valiosa. Mortimer Adler, proeminente filósofo, educador e autor do século XX, dedicou a vida a resgatar essa arte. Inspirado pelo conceito grego de paideia — uma educação holística que visa o desenvolvimento integral do ser humano —, Adler defendia que a leitura criteriosa dos grandes clássicos é o pilar de uma mente verdadeiramente educada. Sua obra mais influente, "Como Ler Livros", publicada originalmente em 1940, foi extensivamente revisada e reescrita em 1972, em colaboração com Charles Van Doren. É nesta obra conjunta que eles apresentam um método sistemático para transformar a leitura de um mero ato de decodificação em um poderoso exercício de crescimento intelectual. Este post explora os princípios fundamentais apresentados no livro, oferecendo um guia a quem deseja dominar a arte de ler e, com isso, elevar seu entendimento a um novo patamar.

Neste Post, Você Descobrirá:

  • o que define a leitura como uma arte e por que essa habilidade pode ser aprimorada;

  • a diferença principal entre leitura passiva e leitura ativa e como o engajamento consciente com o texto potencializa a compreensão.

  • o conceito de "elevação do entendimento" e por que o verdadeiro conhecimento transcende o acúmulo de informações;

  • os quatro níveis de leitura propostos por Adler, desde a análise básica até a síntese complexa de múltiplas obras.

O Que É a Arte de Ler?

Para Mortimer Adler, a leitura não é uma atividade passiva, mas uma habilidade complexa que, como qualquer outra arte, pode ser desenvolvida e aperfeiçoada, por meio de técnica e prática. Dominar a arte de ler é ir além da simples decodificação de palavras e engajar-se em um processo ativo de compreensão, análise, síntese e reflexão.

A essência dessa arte está na leitura exigente, aquela que nos desafia e nos força a extrair o máximo de significado de um texto. O leitor habilidoso não apenas recebe informações, mas dialoga com o autor, questiona seus argumentos e conecta as ideias apresentadas ao seu próprio repertório de conhecimento. Trata-se, portanto, de uma busca ativa por entendimento, um esforço consciente para ascender do que se sabe ao que se pode vir a saber.

A Leitura Ativa: O Diálogo Essencial com o Texto

O pilar para alcançar um nível superior de compreensão é a leitura ativa. Esta abordagem contrasta diretamente com a leitura passiva e superficial, pela qual o leitor consome informações sem questionar, anotar ou conectar ideias. A leitura passiva é um monólogo; a ativa, um diálogo.

Engajar-se ativamente com um texto exige uma postura consciente e deliberada. A regra fundamental, segundo Adler, é clara: faça perguntas enquanto lê e busque respondê-las com o auxílio do próprio texto. Este processo de interrogação constante transforma a leitura em uma atividade investigativa.

Embora essa abordagem demande maior investimento de tempo e esforço, os benefícios são inegáveis:

  • compreensão aprofundada: o entendimento transcende a superfície do texto;

  • retenção de conhecimento: as informações são assimiladas de forma mais duradoura;

  • desenvolvimento do pensamento crítico: a capacidade de analisar, avaliar e sintetizar argumentos é aguçada.

Curiosamente, ao aprimorar a habilidade de ler, aprimoramos também a de escrever. A clareza de pensamento e a capacidade analítica desenvolvidas na leitura crítica são ferramentas indispensáveis para articular e transmitir ideias de forma eficaz na escrita.

O Objetivo Supremo: A Elevação do Entendimento

Bem, e qual é o propósito de ler bons livros?

O propósito de ler bons livros, especialmente os que nos desafiam, é alcançar a elevação do entendimento.

Adler faz uma distinção fundamental entre acumular informações e adquirir conhecimento genuíno, ou seja, elevar o entendimento. É um engano comum acreditar que possuir uma vasta quantidade de dados sobre um assunto equivale a compreendê-lo profundamente.

Considere a diferença entre um estudante que memoriza fórmulas matemáticas, sem entender sua lógica subjacente, e outro que compreende os princípios e, por isso, consegue aplicá-los a uma variedade de problemas. O primeiro possui informação; o segundo, entendimento.

O problema de uma leitura que não nos desafia é que ela raramente é capaz de elevar nosso entendimento. Se você lê apenas textos que estão em seu nível de compreensão atual, você não é estimulado a expandir suas faculdades intelectuais. Por isso, Adler insiste: o que lemos precisa ser melhor ou maior que nós. A chave para uma leitura proveitosa é escolher obras que nos exijam esforço, que nos obriguem a crescer para alcançá-las.

O Papel da Imaginação na Compreensão Profunda

Parte essencial do ato de ler é "pensar", e o pensamento, neste contexto, vai além da reflexão lógica; exige, frequentemente, o uso da imaginação para construir sentido. Para compreender plenamente um texto, especialmente quando trata de temas abstratos ou realidades distantes, o leitor precisa construir mentalmente as ideias apresentadas pelo autor.

Por exemplo, ao ler um livro de história sobre a Roma Antiga, a imaginação permite visualizar a arquitetura, as vestimentas e o cotidiano daquela sociedade; diante de uma obra filosófica, a imaginação ajuda a construir cenários hipotéticos para testar e analisar os argumentos do autor.

Segundo Adler, muitos leitores cometem o erro de pensar que apenas o poeta precisa de imaginação para escrever, mas não o leitor para compreender o poema. Tomemos como exemplo "O Navio Negreiro" de Castro Alves. Ao ler versos como "Era um sonho dantesco... o tombadilho / Que das luzernas avermelha o brilho, / Em sangue a se banhar", a imaginação é o veículo que nos transporta para a cena, permitindo-nos sentir a angústia e o horror descritos. É por meio desse exercício imaginativo que a leitura se torna uma experiência profunda e transformadora.

Os Quatro Níveis da Arte de Ler

Adler estrutura a jornada do leitor em quatro níveis progressivos e cumulativos. Cada nível baseia-se no anterior, construindo uma base sólida para uma compreensão cada vez mais sofisticada. É fundamental notar que a escolha do nível de leitura apropriado depende do objetivo do leitor: entretenimento, informação ou entendimento.

1. Leitura Elementar

Este é o nível fundamental, onde se aprende a decodificar as palavras e a compreender sentenças simples. É a habilidade de responder à pergunta: "O que esta frase diz?".

2. Leitura Inspecional

Neste nível, o objetivo é obter uma visão geral do livro em um tempo limitado. O leitor examina o sumário, o índice, a introdução e a conclusão para entender a estrutura da obra, seus temas principais e decidir se ela merece uma leitura mais aprofundada. É uma ferramenta essencial para classificar livros e otimizar o tempo de estudo.

3. Leitura Analítica

Considerada por Adler como a leitura completa e ativa por excelência, a leitura analítica visa a compreensão profunda de uma única obra. O leitor analisa o texto minuciosamente, identifica os argumentos centrais, define os termos-chave do autor e avalia a lógica da obra. É um processo sistemático para extrair o máximo de conhecimento de um livro.

4. Leitura Sintópica

O mais alto e complexo nível de leitura. Aqui, o leitor investiga um único assunto lendo diversas obras relacionadas a ele. O objetivo não é apenas entender cada livro individualmente, mas comparar e contrastar as diferentes perspectivas para construir uma análise abrangente e original sobre o tema. É o nível exigido para a pesquisa acadêmica e a produção de conhecimento novo.

Conclusão

Dominar a arte de ler é mais do que uma habilidade acadêmica; é uma ferramenta para a vida. Os ensinamentos de Mortimer Adler convidam-nos a abandonar a passividade e a abraçar a leitura como um diálogo vigoroso com as maiores mentes da história. Ao praticar a leitura ativa, buscar a elevação do entendimento e progredir por meio dos quatro níveis de leitura, transformamos nossa relação com os livros e, consequentemente, com o mundo. A leitura deixa de ser um passatempo para se tornar um caminho de contínuo crescimento intelectual e pessoal.

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